Petistas
discutem 'a melhor resposta'
O PT completa dez anos no poder, em
janeiro de 2013, com a antiga cúpula do partido condenada pelo Supremo Tribunal
Federal e seu principal líder, Luiz Inácio Lula da Silva, fustigado por
acusações segundo as quais deu "ok" ao esquema de pagamento de
parlamentares, entre 2003 e 2005, e foi até beneficiado por ele. Diante do
atual bombardeio, engrossado pela Operação Porto Seguro, que pôs na berlinda a
ex-chefe do gabinete presidencial em São Paulo, Rosemary Noronha, os petistas
ainda não se entendem sobre qual a melhor reação.
A direção nacional do partido já
defendeu os condenados no julgamento do mensalão em dois documentos oficiais
após as penas serem impostas pelo Supremo. Em ambos os momentos, atribuiu a
atual situação a movimentos conservadores.
Na semana passada, o líder do PT na
Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto (SP) e o neoaliado senador Fernando Collor
(PTB-AL) conseguiram aprovar, numa comissão do Congresso, convites para que o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso seja ouvido em casos de financiamentos
supostamente ilegais de campanhas tucanas. O procurador-geral da República,
Roberto Gurgel, responsável por acusar os mensaleiros no julgamento do STF,
também será convidado a dar explicações. Segundo os petistas, ele ignorou
indícios obtidos pela Operação Vegas da Polícia Federal que apontavam a
estreita ligação entre o senador cassado Demóstenes Torre (ex-DEM, hoje sem
partido), que já foi um dos ícones da oposição, ao conTraventor Carlos Augusto
Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Tatto afirma que o PT tem de dar uma
resposta nas ruas. "Vamos mostrar que, enquanto tentam dar golpes em cima
de golpes, nós estamos crescendo. Vencemos três eleições seguidas para
presidente e somos o partido mais querido. A crise da qual falam é uma crise de
papel, midiática. Porque a população mais pobre está protegida", diz o
petista.
Explicação. O líder do governo na
Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), acredita que o partido precisa dar uma
resposta à sociedade a respeito dos últimos acontecimentos. E isso se fará com
muito trabalho tanto por parte do PT quanto do governo.
"Diria que a Polícia Federal, no
governo do PT, tem liberdade para trabalhar e investigar quem quer que seja.
Isso é importante. Isso tem que ser mostrado", afirma. Para ele, o que o
PT tem de mostrar para a população é que não compactua com o erro, investiga
todos. "A luta política existe e é legítima. Então, o PT que crie seus
mecanismos de defesa. Quanto mais evitar o malfeito, mais fará sua parte."
"Partido nenhum é partido de
santos, então todos os partidos, ao longo de suas trajetórias - não que seja
correto - têm membros que vão cometendo erros e acertos", afirma o líder
do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), segundo quem os ataques
"abertamente direcionados ao ex-presidente Lula não são pessoais contra
ele, mas tenta-se manchar sua história para destruir o patrimônio que ele
construiu, que é o PT, já pensando em 2014".
O senador Humberto Costa (PE), citado
por Valério no depoimento à Procuradoria-Geral, acha que, apesar do momento
difícil, a crise mais grave vivida pelo partido ocorreu em 2005, quando
estouraram as primeiras denúncias sobre o mensalão e duas CPIs foram
instaladas.
À época, em especial após o
depoimento do publicitário Duda Mendonça em que ele admitiu à CPI dos Correios
ter recebido em contas no exterior, a oposição chegou a pensar em impeachment.
"Diziam que Lula não terminaria o mandato, que o PT estava destruído, mas
ele foi reeleito, conseguiu fazer Dilma sua sucessora. Acho que, novamente, o
partido terá ampla condição de restabelecer sua imagem positiva com a população
e Lula continuará com sua imagem inabalada."
A mesma linha de raciocínio tem o
senador Lindbergh Farias (RJ), vice-líder do PT. "Tudo o que está
acontecendo não altera em nada a correlação de forças do partido com a
sociedade, mesmo que muita gente torça para que altere." Dilma Rousseff,
segundo pesquisa CNI Ibope divulgada na sexta-feira, tem 78% de aprovação. Seu
governo tem 62%.